Bem-haja caro leitor!
Após tanto tempo desaparecido, o Contra a corrente gostaria de dar oportunidade à criadora do blog para se manifestar pessoalmente aos leitores com a partilha de algo que veio ao seu coração...
Caros leitores, como pode ser lido no meu perfil, encontro-me de momento a frequentar o mestrado em ensino de Biologia e Geologia... Tem sido uma caminhada difícil, muitas vezes frustrante... Creio que muitos dos meus colegas poderão confirmar as minhas palavras. Mas não menos marcante, tem sido o que temos aprendido em algumas disciplinas e que tanto têm enriquecido a nossa bagagem.
Muitas vezes, com o cansaço e desgaste excessivos, esquecemo-nos que podemos tirar algo muito construtivo das disciplinas que nos esgotam, e é sobre um dos temas que foram tratados em algumas disciplinas que eu queria falar e partilhar hoje convosco.
Hoje estava a ler um versículo da Bíblia que me recordou de uma letra duma canção apresentada num trabalho de Temas de Didática das Ciências que fiz recentemente.
"O que oprime o pobre para se engrandecer a si mesmo, ou o que dá ao rico, certamente empobrecerá."
Provérbios 22: 16
Este versículo pode ser aplicado a muitas áreas da vida, mas eu vejo-o enquadrado especialmente no contexto profissional, quando e onde as nossas actividades profissionais nos fornecem de alguma forma, poder sobre os outros. Ora, como escreveu Stan Lee, "with great power there must also come — great responsibility" e nós somos chamados a essa responsabilidade. Ainda que haja muita especulação acerca de quem foi o verdadeiro autor desta citação (http://www.newsfromme.com/archives/2005_10_06.html), penso que as palavras de Jesus conforme S. Lucas, lembram-nos disso mesmo:
"...a qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou, muito mais se lhe pedirá."
Lucas 12: 48b)
Também neste caso, podemos aplicar o que Jesus disse a muitas áreas da nossa vida, mas eu continuo a aplicar ao contexto profissional, e no meu caso, mais concretamente à educação e ao ensino.
'Mas a que responsabilidade é que ela se está a referir?'
No ensino, poderiam ser referidas muitas, e todos nós o sabemos. Mas eu gostaria de lançar o holofote sobre algumas questões que normalmente os professores não falam, e antes de revelar quais são, gostaria de partilhar então convosco a tal letra apresentada na disciplina de Temas de Didática das Ciências:
Sou um patinho assim, assim
Não há quem repare em mim
Não sou triste nem zangado
Eu sou só um pouco reservado
Não sou loiro, não sou alto
Não corro muito depressa
Não tenho tempo de salto
Não remato nunca de cabeça
Eu sou o Orlando
E só venho à escola
De vez em quando
De vez em quando
Os dias lá no meu meio
São muito mais não que sim
Não sou um patinho feio
As águas é que fogem de mim
Se as águas fossem iguais
P'ra quem começa a nadar
Talvez eu viesse mais
Talvez até ousasse voar
Eu sou o Orlando
E só venho à escola
De vez em quando
De vez em quando
Se alguém se lembrar de mim
E disser: “O Orlando veio.”
Digam-lhe que hoje vim
Mas fiquei sozinho no recreio
Eu sou um Orlando
E só venho à escola
De vez em quando
De vez em quando
(Orlando de Vez em Quando, composição: Carlos Tê, música: Cabeças no Ar)
Então, de que responsabilidade estamos a falar?
Falamos da responsabilidade de nunca tratar os alunos de acordo com preferências ou expectativas (Não sou loiro, não sou alto /Não corro muito depressa / Não tenho tempo de salto / Não remato nunca de cabeça), ou de acordo com as expectativas dos outros (Provérbios 22: 16), mas tentar dar as mesmas oportunidades a todos (Se as águas fossem iguais / P'ra quem começa a nadar / Talvez eu viesse mais / Talvez até ousasse voar), identificar não só os meninos ou jovens que se portam mal, mas também os calados e envergonhados (Não há quem repare em mim / Eu sou só um pouco reservado) e dar-lhes uma atenção especial.
Isso exigirá de nós muito mais trabalho, mas poderá mudar o rumo de muitos Orlandos…
Deixo-vos a música…
Que possamos nadar contra a corrente...
Bons mergulhos**
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